FARMANGUINHOS DESENVOLVE BIOLARVICIDA CONTRA AEDES AEGYPTI
RIO - Muitas vezes, até moradores da região têm dificuldade para definir
o que é Barra, Curicica ou Jacarepaguá. Uma solução usual é dizer que
um certo trecho da Estrada dos Bandeirantes é o “lugar onde ficam as
fábricas de farmácia”. De fato, a via e suas proximidades abrigam
diversas indústrias farmacêuticas. Duas delas, o laboratório Servier e o
Instituto Farmanguinhos, maior laboratório público do país, chegam a
2016 completando 40 anos de operação. Enquanto o primeiro aproveita a
data para abrir suas portas a visitantes e anuncia a produção de cerca
de 15 novos medicamentos nos próximos cinco anos, o segundo, que vê novo
biolarvicida elaborado por sua equipe começar a ser comercializado,
tenta se expandir, em termos de área e de desenvolvimento tecnológico.
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Biolarvicida contra o Aedes aegypti desenvolvido por equipe do Farmanguinhos - Barbara Lopes / bárbara lope |
Vinculado à Fiocruz, Farmanguinhos é o laboratório público brasileiro
com maior capacidade de produção de remédios, cerca de 40. O que não
significa que sua operação seja a maior atualmente. Como atende à
demanda do Ministério da Saúde, o instituto depende de programas do
governo federal para definir quantos e quais medicamentos serão
fabricados, todos para o SUS. O diretor executivo, Hayne da Silva,
explica que, desde 2005, a escala produtiva foi reduzida, mas, por outro
lado, os produtos foram aperfeiçoados.
— Além de repassar dinheiro, o Ministério da Saúde entregava kit de
medicamentos. Mas, nesse ano, houve uma mudança na forma de
financiamento da assistência de medicamento básico aos municípios. A
partir de 2005, o governo federal passou a somente repassar dinheiro, e o
município decide onde compra remédios. Agora, ficamos só com programas
estratégicos do ministério, como os de combate à Aids, hepatite C,
esquistossomose, tuberculose e filariose. Em compensação, nós nos
aperfeiçoamos e hoje entregamos remédios de maior valor — diz.
Com cerca de 700 funcionários, Farmanguinhos produz hoje 11 tipos de
medicamento, sendo seis na própria fábrica, em Jacarepaguá; e cinco por
meio de parcerias com laboratórios privados. Esse tipo de operação
permitiu, inclusive, a criação de um novo biolarvicida, que começará a
ser comercializado agora, contra o mosquito Aedes aegypti. A tecnologia foi desenvolvida pela equipe de pesquisa do instituto, mas será produzida por outro laboratório.
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Dentro da fábrica. Máquinas da Farmanguinhos realizam o encapsulamento dos remédios produzidos - Barbara Lopes / Agência O Globo |
Essa relação entre o público e o privado explicita o panorama da
indústria no país, onde o desenvolvimento farmoquímico, ou a criação de
princípios ativos usados nos remédios, estagnou-se nas últimas décadas.
Silva diz que hoje o Brasil é soberano somente na área farmacêutica,
isto é, na transformação de princípios ativos em medicamentos. Os
insumos utilizados são todos importados, e as tecnologias desenvolvidas
dependem de laboratórios particulares para produção em larga escala.
— O Brasil tem conhecimento para produzir tecnologia, mas falta
política de incentivo — explica Silva, que ocupa o cargo de diretor
executivo de Farmanguinhos desde 2009 e antes era funcionário da área de
pesquisas do instituto.
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Hayne da Silva é o atual diretor de Farmanguinhos e é funcionário da Fiocruz desde 1985 - Barbara Lopes / Bárbara Lopes |
EXPANSÃO EM PAUTA
Apesar das dificuldades que enfrenta, o Instituto Farmanguinhos está
em conversas com a administração da UFRJ para conseguir um terreno e,
assim, poder se desenvolver na área farmoquímica.
— O novo biolarvicida que desenvolvemos é um exemplo da nossa
capacidade técnica. Mas não conseguimos hoje produzir tecnologia própria
em escala industrial. Estamos caminhamos para um projeto que mudaria
esse paradigma. Até porque precisamos desenvolver produtos ignorados
pelo mercado, como drogas para doenças tropicais, malária, filariose.
Hoje o que dá dinheiro, e assim se direcionam as pesquisas privadas, são
diabetes e hipertensão — afirma...
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